Da Escola Pública ao Topo do Mundo

Quando eu tinha seis anos e fui diagnosticado com asma e hiperatividade, a orientação do médico que me atendeu, à minha mãe, foi de me colocar para praticar algum esporte porque, segundo ele, isso seria útil para o tratamento de ambas e como eu estudava no Colégio Estadual Rio Branco, em Porto Alegre, que oferecia algumas modalidades no contraturno escolar, acabei iniciando no judô em 1988. Quase duas décadas depois, em 2005, me tornei o primeiro brasileiro campeão mundial de judô, no Cairo, capital do Egito.

Logo de cara meu sensei, que acabou por ser meu técnico da vida toda, Kiko Pereira, percebeu em mim talento para ir além daquelas aulas em prol da minha saúde e como também ministrava judô na SOGIPA, logo mudei meu local de treinamento para a estrutura do clube. Entretanto, sem aquele início na escola, com o oferecimento de esporte aos alunos, posso afirmar com alguma tranquilidade que as coisas poderiam ter sido diferentes  e seria mais difícil ter colocado meus pés no tatame.

O meu exemplo é um, dentre tantos, que o esporte no ambiente escolar é um sólido formador de campeões, no esporte e na vida, sendo uma poderosa ferramenta de transformação social, intelectual e que ajuda a moldar cidadãos comprometidos com o certo.

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A luta por uma escola pública de qualidade, que tenha uma estrutura esportiva compatível com a importância que ela possui, é de todos nós porque isso muda a vida das pessoas, em especial das novas gerações, para melhor.

Minha experiência pessoal enquanto atleta oriundo de uma escola pública, onde tive a primeira e mais valiosa lição do judô, de aprender a cair, mas sobretudo a levantar está enraizada dentro de mim e me ajuda, diariamente, a conquistar meus sonhos e objetivos. Perdi algumas lutas, isso faz parte do esporte e do nosso dia-a-dia, mas garanto a quem estiver me dando o prazer de ler esse relato pessoal, que a derrota pode – e deve – nos ensinar mais que os triunfos que obtivermos, isso porque sempre saí dos tatames, tanto de competição como treinamento, com a certeza que havia dado o meu melhor e feito a minha parte.

Sou grato a Deus por todas bênçãos que recebi, por ter orgulhado a minha família, amigos e todos que estiveram ao meu lado nos momentos de glória e nos mais difíceis, do bicampeonato mundial quando chorei de alegria, as lesões quando as lágrimas eram de dor. E hoje eu posso dizer, com orgulho, que fui da escola pública ao topo do mundo.

João Derly – Bicampeão mundial de judô